![]() |
Foto: http://inironichell.tumblr.com/ |
Eu morri. Sem querer, sem desejar, eu morri. Morri a morte dolorida daqueles que inexistem dentro do coração do outro. Morri, enquanto ainda adormecia os meus olhos no sonho inocente de paralisar a máquina do tempo, para recolocar cada coisa em seu lugar. Morri acreditando que podia transformar a estranha realidade do ontem, em um hoje muito mais bonito. Morri, enquanto a expectativa do até breve pernoitava dentro do meu coração, e me fazia acreditar que algumas partidas inesperadas são só um forma desajeitada de dizer: “vou ali, mas já volto”. Morri, acreditando que voltaria. Morri; perdida, dentro da indesejável solidão de quem fica.
Eu morri. Morri; pálida e exausta, com as cores do maior amor do mundo ainda nas pontas dos dedos, revelando minhas inúmeras tentativas de recolorir o seu coração. Morri, enquanto morria aos poucos, submersa em uma crença quase inabalável, de que o amor que carregava dentro do meu peito poderia transformar a sua vida. As suas coisas. As suas tantas fases, quando elas se desencontravam da lua. Morri, entregue ao vento, feito palavra perdida, não pronunciada; não revelada, quando ainda tinha tanto a lhe dizer. Morri muda, como aqueles que se perdem dos seus sonhos e chegam ao final da vida sem nada para contar.
Morri um pouco de cada vez… Uma morte lenta, de quem vai se entregando às pequenas dores, até não sobrar mais espaço na alma para doer. E morri cega, surda e perdida, sem conseguir encontrar o caminho de volta para a minha própria vida, porque mesmo sem você saber, eu estava morando na sua. Eu fiquei lá, morando, sentada, esperando, como quem espera sem nenhuma garantia; mas espera, só porque acredita que amor bonito marca tanto por dentro, que não importa o tempo que leva, ele sempre volta. E traz flores, plantadas dentro de um coração renovado e bem disposto, entregue ao encanto de um amor tão grande que sobreviveu ao tempo de uma espera eterna. Morri, de tanto esperar.
Morri, vivendo nos seus dias. E enquanto você vivia a sua vida, sem nenhuma vontade de voltar para os braços abertos de quem só espera, eu morria. E morri, sem saber ao certo o meu lugar nessa vida incerta e intempestiva, que nos sorri o sorriso mais bonito quando nos cobre de esperança, e nos mata aos poucos quando as estrelas que ganhamos para iluminar o nosso céu se apagam sem que a gente tenha conseguido tocá-las. Morri, segurando aquela estrela.
Morri, sem conseguir saber de verdade o meu tamanho. Sem saber se minha alma era realmente maior que o meu corpo. Morri, sem ouvir a verdade. Sem ouvir o que você nunca disse. Morri, sem conseguir chegar ao paraíso, encontrar Deus e lhe pedir perdão, pela minha falta de fé. Morri, sem nenhum encanto. Morri sonhando o sonho dos inocentes – dos que ainda acreditam no maior amor do mundo – e enquanto adormecia os meus olhos em uma espera, um anjo me falou que Deus me via. Que embora algumas vezes eu não acreditasse, Ele me via. E me via de um jeito tão bonito, que havia lhe enviado ali, para me dar algumas respostas. E que ele estava ali só para me dizer que um amor tão grande assim, não poderia morrer de repente. Que um amor tão grande assim, merecia mais. Que um amor tão grande assim, deveria se eternizar. Que um amor tão grande assim, deveria deixar alguém para lembrar e contar a sua verdadeira história. E foi só por isso – por ter enxergado no meio da multidão o tamanho do amor que eu carregava dentro do meu peito, sem ninguém saber – que Ele plantou dentro de mim uma semente que deu origem a uma flor: A flor do maior amor do mundo!
Agradeci ao anjo pelo presente. Agradeci a Deus por me amar assim. E, hoje, peço a Deus, que mesmo com a alma soterrada pela falta de esperança e o coração injustamente pisoteado, e ainda no chão, que eu não desista de amar. Que ainda que o tempo não consiga fazer o meu coração voltar saudável para dentro do peito, que eu não desista de amar. Que ainda que me digam que eu morri dentro do coração de alguém, que eu não desista de amar. Que ainda que doa o intraduzível, que eu não desista de amar. E que eu não desista do amor, porque é ele, o meu amor, o maior amor do mundo, que alimenta a minha flor.
Érica Gaião
Nenhum comentário:
Postar um comentário