"Nada sobre as estrelas sabia,
Mas quando a noite caia
Era fácil de se envolver...
No terceiro quadrante da florida janela-
era começo de primavera-
Maria tinha um céu a tecer.
As nuvens já não separavam
Maria e o céu estrelado...
Pés no chão, olhos num ponto qualquer.
Como um pássaro sem asas
almejava o mais insano: tocá-las!
Mas não sabia seus nomes sequer...
E assim voavam os minutos, passavam as horas
Sono e sonho levavam seus pensamentos embora
Mas logo veria o Sol, e das estrelas lembrava!
Nas tardes seguintes, depois da escola
Não queria a boneca, a peteca ou a bola
Na velha livraria nossa Maria estava.
No começo lia qualquer bobagem que ali podia achar,
Das estrelas de Hollywood às estrelas-do-mar,
Seus bracinhos só alcançavam três prateleiras ):
Na primavera seguinte, alguns centímetros mais alta
Lia sobre o céu, o Sol, tudo sobre a Via Láctea
E à noite olhava a estrela-sua-de-cada-dia.
Numa dessas tardes na Livraria
Era dia chuvoso, mas lá estava Maria,
E havia algo novo: uma enorme escada na estante...
Cansada dos mesmos livros há meses
A menina não pensou duas vezes,
Subiu, subiu e subiu até o mais distante.
Era como estar do outro lado das nuvens talvez,
Os livros eram enormes, suportava descer um por vez,
Sem tempo a perder, folheava as páginas ilustradas.
Um grande livro chamou sua atenção
Parecia bem mais pesado, foi difícil chegar ao chão
O que ali encontraria jamais imaginava.
O sumário indicava dezenas de capítulos,
os olhos de Maria percorreram os títulos
e estagnaram no último deles:
"Como nasce e como morre uma estrela"
De súbito as lágrimas, não podia detê-las
A morte não diz com o brilho delas...
Era dor que nem band-aid resolve
como fruta que brota e ninguém jamais colhe.
Das estrelas dependia seu encanto.
-Minha Maria, lá no céu estão elas.
Vivas, em seu lugar, amarelas...
E aos poucos a noite curou seu primeiro e secreto pranto.
(Érica Sena)
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